Team Academy

A Team Academy estava dando seus primeiros passos em Londres quando conversamos com a Alison. A Team Academy é uma iniciativa finlandesa, e foi a finlandesa Henna que, ao saber da Expedição Liberdade, se empolgou com nossos planos e sugeriu que incluíssemos a Team Academy no nosso roteiro. Enquanto Hennah implementava a Team Academy no Brasil, a Alison fazia o mesmo na Inglaterra, onde o programa havia começado há apenas 6 semanas (em Bristol e em Newcastle).

A Alison estava trabalhando para iniciar a Team Academy na terra da rainha já há três anos. Isso se explica pois, ao contrário de outras insituições que conhecemos a Team Academy não opera sozinha. Eles trabalham com parcerias junto a universidades já estabelecidas, oferecendo o formato deles ligado à cursos de graduação em universidades. Então, Alison conta, foram três anos para encontrar universidades que se empolgassem para abraçar a proposta alternativa da Team Academy. E o desafio inicial era enfrentar uma barreira que ela via na forma das universidades do Reino Unido se posicionarem:

As universidades aqui não estão acostumadas a colaborar, isso simplesmente não acontece. Então trabalhar junto é algo bem estranho para elas. Elas são muito isoladas na forma como planejam o próprio futuro, só pensam nelas mesmas e consideram as outras universidades como concorrentes.

Para piorar, Alison ainda disse que a cultura inglesa é, em si, fechada. Foi difícil convencer as universidades de que algo que deu certo na Finlândia daria certo no Reino Unido. Mesmo assim, as parcerias começaram e o plano é conseguir 10 universidades em 10 anos para oferecer o modelo Team Academy pelo Reino Unido.

Alison Fletcher, uma das responsáveis pela Team Academy na Inglaterra

Mas afinal, o que é a Team Academy? Resumindo, ao invés de os alunos aprenderem algo para depois ter que descobrir o que podem fazer com esse conhecimento, a proposta é que as pessoas aprendam a partir da necessidade de fazer algo. A ideia é que a experiência mais a prática vivenciada em grupo faz a pessoa amadurecer tanto individualmente quanto como ser humano. Assim, os empreendedores – como eles se referem aos alunos – formam equipes de 15 a 18 pessoas logo no início da graduação, mesclando diferentes competências individuais. Cada equipe tem a tarefa de criar uma organização comercial, normalmente uma cooperativa, e tocar essa instituição durante os três anos de universidade (tempo médio de uma graduação no Reino Unido). A ideia é criar alternativas ao modelo universitário tradicional: empreendedores em equipes, ao invés de estudantes; escritórios, ao invés de salas de aula; projetos reais, ao invés de aulas; facilitadores eo invés de professores. Assim, como Alison resume, “tudo na experiência do estudante é diferente.”

Seguindo essa estrutura, a cada semana as equipes conversam por duas horas. Falam sobre o que está acontecendo como time (como está a relação entre eles, quem está indo bem, quem está atrapalhando ou irritando os outros), sobre o que está acontecendo com a cooperativa, e sobre o que estão aprendendo no processo todo. Assim, o modelo não se restringe aos conteúdos necessários para empreender, para tocar uma instituição, mas passa também por reflexões sobre relações interpessoais, subjetividade, troca de experiências, etc.

Nossa conversa no Southbank Members’ Room

Segundo Alison, esse modelo tem base em três pilares. Um é mais técnico e profissional, como contabilidade, marketing, legislação envolvendo a criação de empreendimentos etc. A segunda área é focada no comportamento da própria equipe: comunicação, colaboração e trabalho em equipe. Por fim, o mais importante segundo a Alison, é a parte de habilidades pessoais como empatia, otimismo, criatividade e resiliência – área praticamente ignorada no ensino superior tradicional, Alison comenta.

A formação da Team Academy, portanto, não é exatamente focada em formar empreendedores, mas sim em promover e enriquecer o processo de aprendizagem através da atividade de empreender. Eles acreditam que o as habilidades que se aprende dessa forma capacita as pessoas para fazer qualquer coisa que quiserem na vida delas após a graduação. Além disso, a Team Academy descarta a ideia do “empreendedor” como herói, agressivo, que já sabe o que fazer e onde ir. Como a Alison nos explicou:

Ao invés de dizer, por exemplo, eu sou um designer gráfico, vou criar um escritório de design – e ficar imaginando quem poderia ser meu cliente – a equipe vai conversar com a comunidade, com as pessoas da vizinhança, com o comércio local e mesmo com as grandes corporações envolvidas nessa rede. E perguntam “do que vocês precisam?”, “o que está faltando aqui?”, “o que eu posso fazer aqui?” E eles olham se alguma das respostas para essas perguntas se encaixa com características e competências que eles tem ou gostariam de ter. E é com base nisso que criam suas organizações, suas cooperativas. Então, é menos sobre “o que eu faço” e mais sobre “o que é necessário”.

Dessa forma a Team Academy propõe que a atividade de empreender está na rede de pessoas conectadas, na colaboração livre entre pessoas que se alternam entre papéis de cooperação e competição ao longo dos empreendimentos e da vida. Como nos contou a Alison, a visão de futuro deles “se afasta da idea de que a maioria das pessoas trabalharão para grandes organizações e corporações: na verdade a ideia é de que a maioria das pessoas vai tocar suas próprias vidas, tendo rendas de uma grande variedade de atividades diferentes. Nesse cenário, a rede de relacionamentos, bem como saber lidar com ela, é super importante. Mas também, nesse cenário o conhecimento é construído socialmente. Para a Alison, mesmo se pessoas sabem sobre um mesmo assunto, elas sabem coisas diferentes sobre esse assunto. Então é importante construir o conhecimento em grupo e estabelecer relações e empreendimentos dentro dessa rede:

Na essência, a Team Academy é uma comunidade de aprendizado construída com base no princípio de que se a teoria for aliada a atividades no mundo real, de que se você adquirir essa teoria a medida em que você precise executar tarefas no mundo real, o aprendizado que você tem dessa teoria será muito mais fácil de assimilar, de ser internalizado, de ser aplicado e de ser questionado criticamente.

A Team Academy acredita na ideia think global, act local, e aposta nas formas efetivas de gerar atividade ecônimica localmente, que acabam impactando, de certa forma, também a configuração global. E isso, junto com o aprendizado em grupo, através da atividade de empreender, é o que dá o tom do processo que eles propõe – como mostramos no nosso infográfico:

Infográfico

Por fim, o perfil de quem atua como facilitador inclui pessoas que já tiveram seus próprios negócios ou projetos, pessoas que tiveram alguma formação acadêmica (mas não necessariamente pós-graduação), e pessoas que se envolvem ou são entusiastas de startups e novos negócios. A ideia é que eles atuem para otimizar as trocas entre as pessoas nas equipes, e não expondo conteúdo de uma forma didática. Ter aptidão para coaching, para gerar empatia, para ouvir, para dar suporte aos empreendedores em seus desafios é mais importante do que a didática em si.

Nossa entrevistada Alison

Por falar em coaching, a Alison, além de estar envolvida na Team Academy, ainda trabalha como coach profissional, em uma empresa que ela mesmo fundou. Sobre essas duas atividades, ela brinca: “se as pessoas que eu oriento no meu negócio de coaching tivessem tido esse tipo de educação [da Team Academy], eu não teria clientes, por que muitos dos desafios que eles enfrentam, esses jovens de 18, 19, 20 anos já enfrentaram e aprenderam a lidar com isso no ambiente universitário”.

No nosso papo ainda surgiu um cometário interessante, que deixamos aqui para reflexão: ela comentou que foi procurada para ir a Argentina, para apresentar o modelo da Team Academy a algumas pessoas estavam interessadas em implementar a Team Academy por lá. Nós perguntamos se havia alguma relação de crises sociais e econômicas com essa busca por alternativas à educação e por alternativas aos modelos de carreira e mercado. A resposta dela parece sustentar essa hipótese que levantamos: quando a Team Academy surgiu, há mais ou menos 20 anos, a Finlândia, que tinha ótimas relações com a URSS, havia perdido a maioria de seus clientes, da noite para o dia, com o fim do bloco soviético – e estava lidando com essa crise, buscando se reestruturar. Então, fica a hipótese e o caso da Team Academy apontando para uma resposta aparentemente afirmativa. E fiquem ainda com um vídeo da própria Team Academy se apresentando para o mundo: